Li recentemente um artigo escrito para o Procel Info, no qual o próprio PROCEL apresentou ao público um projeto que visa por estabelecer a compulsoriedade para a avaliação da conformidade em relação a eficiência energética de edificações em nosso país (veja abaixo o link para a leitura deste artigo).
Existem aqui, ao meu ver, dois pontos importantes a serem considerados neste projeto, além das questões que envolvem o próprio conceito, requisitos e formato de classificação:
Necessidade:
Não se tem dúvidas quanto a importância em avançarmos, de forma consistente e técnica, em um modelo de classificação de nossas edificações (novas e existentes) em relação a sua eficiência e uso racional dos recursos que se tornam escassos a cada dia.
Trata-se de um caminho inevitável e sem volta, o qual precisará de uma adequada estruturação em relação:
- ao conceito e abrangência
- a sua aplicação e uso efetivo dos resultados apurados, visando trazer uma edificação pouco eficiente para um patamar minimamente requerido
- a forma e linha do tempo para a sua implementação, considerando que as nossas grandes capitais possuem, em média, 85% de edificações existentes e com mais de 15 anos de vida útil percorrida dentro de seu ciclo de vida
- ao formato e responsáveis pela apuração destes resultados
Seriedade:
É justamente neste último bullet acima (“formato e responsáveis pela apuração destes resultados”) para o qual chamo a atenção, no que se refere a minha maior preocupação…
Vimos recentemente a implementação no Brasil de modelos de certificação verde para projetos, novas construções e operações em curso; vimos também, através de temas apresentados em alguns dos últimos congressos, que tais edifícios verdes não apresentavam, em sua maioria, o desempenho esperado…
Não é difícil de se compreender que nos falta ainda a compreensão ampla sobre tais impactos (ineficiência energética em edifícios), seja sobre a nossa matriz energética e na relação entre disponibilidade x requerida, seja em relação aos nossos custos operacionais, capacitação de nossos profissionais e falta de comprometimento com programas ambientais.
É possível ainda se enxergar esta condição em situações básicas e do nosso dia a dia, tais como:
- Confiabilidade no monitoramento e controle do uso de energia e água em nossas edificações (inexistência de planos de medição e verificação, e, consequentemente, de um planejamento para a sua medição)
- Confiabilidade em nossos sistemas prediais (processos de comissionamento inadequados, além da inexistência de uma política, ou melhor, de uma estratégia para o uso do recomissioanmento e do retrocomissionamento na etapa de ocupação e uso de nossos edifícios)
- Capacitação de nossa mão de obra (superficial preocupação durante a passagem de bastão entre a entrega de obras ou serviços, e as equipes que efetivamente serão as responsáveis pela operação e manutenção destes sistemas, promovendo o uso de procedimentos e parâmetros inadequados)
- Entre outros…
Destaca-se também a falta de “braços” tecnicamente capacitados para estas análises, a exemplo do que vimos em projetos recentes de certificação, o que requererá, ao meu ver, em um processo bem definido para a capacitação de profissionais e empresas, além da auditoria obrigatória de processos julgados (por amostragem).
Enfim, já ouvimos há muitos anos que o Brasil possui leis bastante completas e complexas, embora seja incapaz, tecnicamente, em fiscalizar o seu cumprimento.
Esta é a real questão….., necessidade real “versus” a seriedade que precisaremos.