Recentemente, o engenheiro Carlos Aparecido Ferreira concedeu uma entrevista para o PROCEL Info, reafirmando a expressiva participação de sistemas motrizes na relação de consumo de energia em nosso país, principalmente no tocante as industrias que respondem por aproximadamente 70% deste consumo.
Na realidade, esta condição não é desconhecida e já observamos algumas outras matérias ou artigos que pautam sobre esta constatação e, ao mesmo tempo, uma preocupação se olharmos os fatores matriz energética e sustentabilidade.
No entanto, em sua entrevista, o engenheiro ressalta a importante visão de que o motor elétrico não deve ser considerado como uma “ilha” ou “foco principal”, haja vista tratar-se de um componente de um sistema maior e integrado, para a produção de determinado tipo de trabalho ou função.
É importante que se olha de forma mais abrangente esta questão, pois existem questões básicas ainda não exploradas em nossa área industrial, assim como também no segmento comercial….
- Falta ou falha de um mapeamento de processos e sua performance;
- Ausência de um programa ou plano de medição e verificação, o que impede a visão e identificação dos verdadeiros vilões em nossa infraestrutura, ou seja, os verdadeiros responsáveis pelo consumo de energia em nossos sites. Notem que me refiro aqui a ausência de um estudo sobre os sistemas e suas funcionalidades, incluindo as ramificações e regimes operacionais, para que se implante de forma estratégica um modelo de medição e monitoramento contínuo de consumos;
- Afastamento de áreas de engenharia ou “REENGENHARIA” que possibilitem, a partir da apuração de resultados e métricas acima, o estudo de novos modelos e/ou tecnologias mais sustentáveis a serem implantadas com o mesmo objetivo.
Particularmente, enxergo que esta falha na atuação de nossos setores técnicos está também pautada na ausência de uma importante motivação proveniente de políticas públicas e de desenvolvimento inexistentes ou ineficazes.
Lamentavelmente, e diferente de outros países considerados como primeiro mundo, não se priorizou no Brasil a definição de tais políticas, assim como também não se estebeleceu qualquer linha de incentivos para tais ações. Vejam o exemplo da energia fotovoltaica em nosso país…..
Trata-se de um interessante artigo o qual compartilharei com vocês na sequência; boa leitura!
“Motor elétrico é um grande potencial de eficiência energética mas não é uma ilha”, afirma especialista do Procel
Para Carlos Aparecido Ferreira, apesar das oportunidades existentes associadas ao motor elétrico, é necessário ter uma visão mais ampla dos sistemas motrizes para aumentar a eficiência energética
Fonte: PROCEL Info
Por: Tiago Reis
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O Brasil possui um grande potencial de ganhos em eficiência energética industrial ao priorizar melhorias em sistemas motrizes. A opinião é do engenheiro eletricista, Carlos Aparecido Ferreira (foto), especialista do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), com mais de 15 anos de atuação em projetos com foco em eficiência energética industrial. Integrante da equipe Procel Indústria, Carlos Aparecido, avalia que o setor industrial brasileiro ainda pode obter muitos ganhos em eficiência energética, já que ainda não existe uma cultura permanente de busca por melhorias, com uma ‘institucionalização’ da eficiência energética. E, neste contexto, a busca pela eficiência dos sistemas motrizes ganha relevância.
De acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o setor industrial é responsável por cerca de 1/3 de todo o consumo de energia elétrica do Brasil, sendo que aproximadamente 70% desse consumo se refere a sistemas motrizes.
Em conversa com a reportagem do Procel Info, Carlos Aparecido Ferreira avaliou que o país ainda dá muita atenção ao motor elétrico de forma isolada, o que impede a obtenção de ganhos maiores em eficiência. Ele revela que o motor elétrico é uma parte do sistema motriz e que olhar com mais atenção apenas essa parte pode não ser uma decisão acertada.
“O motor elétrico é um conversor de energia elétrica em mecânica. Ele possui grande importância, mas não a única. Os sistemas motrizes, que são um conjunto de elementos que permite o funcionamento de diversos usos finais de energia, estão presentes não só na indústria como em vários outros setores, como no saneamento, agrícola etc. Então, avaliar esse sistema como um todo, a parte elétrica e a mecânica, permite a obtenção de ganhos em eficiência energética muito maiores do que apenas substituir um motor antigo por um novo. Por isso, em regra, mesmo o motor sendo o ‘coração’ do sistema, é muito mais vantajoso analisar o sistema motriz como um todo e não somente o motor”, afirma Carlos Aparecido. Mas o especialista também destaca que “por outro lado, o custo operacional com os motores elétricos (basicamente seu consumo de energia) pode chegar a quase 200 vezes o preço do motor, durante sua vida útil, segundo estudos do Procel, o que mostra a importância da compra de motores mais eficientes. Aspectos operacionais também devem ser observados, como a piora do rendimento e principalmente do fator de potência, quando o motor está ou fica sobredimensionado”.
O engenheiro cita como exemplo que vazamentos em sistemas motrizes de ar-comprimido, com consequentes elevações de pressão, podem fazer com que o motor elétrico necessite mais energia para acionar o compressor.
“Esse é um exemplo muito claro da importância de ter uma visão mais ampla sobre o sistema motriz. A redução de vazamentos em um sistema motriz de ar-comprimido, em regra, requer um investimento muito menor do que a ação isolada de substituição do motor elétrico, com muito mais retorno. Um motor novo, mas com toda a estrutura em volta operando de forma ineficiente, vai reduzir pouco o consumo de energia elétrica, na maioria dos casos, com tempo de retorno de investimento em torno de 5 anos. O industrial, quando vê os valores, opta por não trocar de motor. Ou seja, o motor elétrico não pode ser visto como uma ilha isolada”. Por outro lado, segundo o especialista, “neste mesmo caso, após a redução dos vazamentos, o motor velho poderia ser substituído por um novo, com menor potência, mas agora com retorno econômico, o que viabiliza sua troca, o que não ocorreria analisando-se o motor isoladamente”, completa.
Carlos Aparecido explica que na indústria existem sistemas motrizes térmicos e elétricos. Em função de tendências internacionais de eletrificação, muitos dos sistemas térmicos estão sendo convertidos em elétricos. Quanto aos sistemas motrizes elétricos, são classificados em 3 tipos: sistemas fluido-mecânicos (exemplos: sistemas para bombeamento, ventilação, exaustão e compressão); sistemas para processos (há enorme variedade, pois depende do processo industrial); sistemas para transporte ou deslocamento de materiais ou pessoas (ex.: elevador, carro elétrico, guincho e escada rolante). O especialista também chama atenção quanto à quantidade de motores elétricos existentes, pois, obviamente, estão presentes em todos os sistemas motrizes elétricos.
Atuação histórica do Procel tem foco em sistemas motrizes
Por ser um agente executor de políticas públicas na área de eficiência energética, o Procel possui historicamente, em relação ao setor industrial, uma atuação focada na melhoria da eficiência energética em sistemas motrizes. Carlos Aparecido lembra que, por atuar com recursos públicos, o programa tem que ter uma visão global e isenta em suas iniciativas. No caso dos motores elétricos, mesmo sendo o equipamento mais visível, nem sempre uma atuação exclusiva nesse equipamento vai gerar os melhores benefícios para a indústria e para a sociedade.
Além disso, principalmente a partir de movimentos internacionais relacionados à gestão de energia, que culminaram com a publicação da norma ISO 50.001, o Procel passou a atuar também na institucionalização da cultura da eficiência energética em vários setores industriais. Outro ponto destacado pelo especialista é a falta de sinergia entre as várias partes que atuam com a eficiência energética no segmento industrial.
“O Procel percebeu essa falta de aproximação entre os diversos agentes que atuam com eficiência energética, com cada um puxando a eficiência energética para um lado ou sua zona de conforto. Nesse sentido, vários trabalhos vêm sendo feitos com o objetivo de integrar esses agentes. No caso da academia, estamos há mais de uma década trabalhando com a rede de laboratórios de otimização de sistemas motrizes (Rede Lamotriz), de forma a incutir o conceito na academia. Já com entidades representativas do setor industrial, já celebramos alguns convênios para trabalhar no convencimento sobre a importância da institucionalização da eficiência energética em cada organização, por meio de implementação de normas de gestão de energia, como, por exemplo a ISO 50.001. Então, estamos trabalhando em várias direções para mostrar para todas as partes que atuam no setor industrial sobre a importância de uma cultura permanente da eficiência energética em cada organização”, afirma Carlos Aparecido.
Além disso, o especialista destaca que foram realizados 12 convênios com federações estaduais de indústria, nos quais foram implementados 140 projetos de eficiência energética em sistemas motrizes com tempo de retorno de investimento médio de um ano.
“Diagnósticos energéticos passados apresentavam economia de energia de papel, não eram implementados, em função do alto tempo de retorno de investimento. Nos projetos com as federações estaduais de indústria, houve implementação, em função do baixo tempo de retorno de investimento”, revela.
O especialista lembra que o Procel também tem atuado em projetos voltados para normalização, em publicações técnicas, como o Guia Técnico para Motor Premium e para os demais elementos do sistema motriz , e participação em eventos para disseminar essa mensagem sobre a importância de se buscar melhorias em todo o sistema em que os motores elétricos estão inseridos, incluindo a escolha por motores mais eficientes, preferencialmente com Selo Procel, caso seja atrativo economicamente.
“É um trabalho permanente que fazemos para mostrar que só trocar o motor pode não resolver o problema. Tem que ter uma visão geral, inclusive do próprio motor, que leva em conta o custo de aquisição, o custo de operação, manutenção e vida útil, sobredimencionamento e fator de potência, a especificação do motor, decisões relacionadas à eventual queima do motor, entre outros fatores. Se tudo isso não for visto de forma integrada com os outros componentes do sistema motriz, a indústria perde competitividade por conta dos custos elevados com utilização de energia e perda em eficiência operacional. É um erro que acontece em vários segmentos industriais e que estamos trabalhando para mostrar que, mesmo sem grandes investimentos, é possível ter ganhos significativos em termos energéticos”, afirma o engenheiro do Procel.
Um outro exemplo, complementa “são indústrias pagando multa porque operam com fator de potência abaixo do que estipula a regulação, em função de procedimentos operacionais incorretos, com motores operando a vazio, sem necessidade”. Ele também comenta sobre as preocupações com relação aos custos com energia elétrica.
“Há muita preocupação quanto à conta de energia elétrica, mas tal preocupação é focada no valor da tarifa, em decisões superpertinentes, inclusive, quanto a ambientes de contratação, por exemplo. Mas quando se consideram todos os fatores incluídos na tarifa – geração, transmissão, distribuição, perdas técnicas e não técnicas, tributos nas 3 fazendas, encargos e subsídios – chega-se à conclusão de que é um fator muito pouco controlável pela indústria. Por outro lado, da porta pra dentro das indústrias, há uma série de potenciais de eficiência energética, sendo o maior nos sistemas motrizes, quando se analisa a parte elétrica”, conclui Carlos Aparecido Ferreira.
Brasil possui cerca de 20 milhões de motores elétricos em operação
Segundo o especialista, estima-se que atualmente estejam em operação no país mais de 20 milhões de motores elétricos trifásicos. Muitos possuem vida útil superior a 20 anos, o que, por conta da defasagem tecnológica, pode representar um consumo alto de energia devido ao baixo rendimento desses equipamentos. Além disso, vários desses motores já passaram por rebobinamentos que nem sempre são feitos por profissionais preparados, usando instrumentação e material apropriados, o que acaba piorando os rendimentos em relação aos declarados na placa, já defasados tecnologicamente.