Fonte: Valor Online
Por: Aloisio Araújo
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Do ponto de vista da cidade do Rio de Janeiro é mais fácil dizer que sim. A maioria dos benefícios ficou concentrada aqui e a maioria dos custos fica dispersa pelo resto do Brasil. E certamente foi também o caso de Barcelona.
Os gastos com infraestrutura, como metrô, BRT, túneis, VLT etc. têm um benefício grande para a população, mas mesmo aqui os benefícios podem ser contestados, pois talvez tivessem sido maiores ainda. Grande parte das arenas olímpicas são na Barra, deslocando assim o maior dos investimentos, o metrô e a expansão da Lagoa-Barra para essa região. No entanto os benefícios econômicos e sociais dos investimentos em mobilidade urbana seriam maiores caso tivessem sido feitos no subúrbio e zona norte, pois beneficiaria um número bem maior de pessoas, mesmo corrigindo a enorme diferença do custo de oportunidade e de tempo, isto é, de renda.
Quanto aos incentivos à prática de esporte, o benefício alcançado é ínfimo comparado com os benefícios da construção de quadras esportivas que atualmente só está disponível em 35% de nossas escolas e, mesmo nessas, são precárias. Uma vez feito esse tipo de investimento, aí sim o Brasil poderia disputar outras Olimpíadas de forma tão gloriosa. Uma boa parte dos gastos é simplesmente efêmero e vai ser desfeito quando terminarem os Jogos.
A crítica de corrupção não acredito ser válida, pois esta está infelizmente presente em praticamente todos os investimentos públicos e não é uma característica da Olimpíada. Sem dúvida o momento é de frustração dos investimentos que foram prometidos, mas que não foram realizados, como saneamento e na limpeza da Baía de Guanabara.
A expansão da rede hoteleira é um legado que só vai ser útil na medida em que conseguirmos expandir o turismo. E aí vem os lobbies, positivos a meu ver, a favor da maior facilidade para concessão de vistos. Mas o lobby de valor mais questionável, a meu ver, é a liberação dos cassinos.
Para uma visão cética do legado olímpico, recomendo o excelente livro de Davi Goldblatt “The Games: A Global History of the Olympics”. Quanto às minhas experiências pessoais na Olimpíada até aqui, devo dizer que fiquei surpreso com o serviço de alimentação e bebidas, que estava a cargo do que parecia ser uma empresa perdida da era soviética: faltava quase tudo, filas longas e produtos caros. As músicas nos estádios de vôlei eram ensurdecedoras e não deixavam espaço para uma apreciação plena do esporte em si.
O acesso proporcionado pela revitalização da área portuária do Rio Antigo e a valorização do nosso passado escravagista nos deixam um profundo legado. Para terminar de forma menos amarga, a abertura foi esplendorosa, principalmente porque foi feita com custos baixos, o que é extremamente positivo em tempos difíceis para nosso país. A cidade está uma festa!
Economista da EPGE/FGV