O que geralmente passa desapercebido por muitos é o fato de que o sucesso e o desempenho de uma edificação e de seus sistemas dependem de todas as etapas que antecedem ao momento de ocupação e uso.
Ou seja, o desempenho dependerá das etapas de concepção, projeto, construção, instalação, startup e entrega técnica, sendo necessário a manutenção de um rigoroso processo de comissionamento em todas estas etapas.
O processo de comissionamento é, de fato, um conjunto de procedimentos que tem por objetivo assegurar a qualidade em todo o processo, garantindo assim com que edifícios e sistemas sejam projetados para atender as expectativas de seus proprietários, com que equipamentos e componentes sejam selecionados e adquiridos para atender o desempenho especificado em projeto, com que equipamentos e sistemas sejam instalados de forma à atender o projeto, as especificações de fabricantes e boas práticas do mercado, com que sejam especificadas e cumpridas todas as etapas de testes funcionais, de desempenho e integrados e finalmente, com que todas as evidências e documentação técnica sejam adequadamente organizadas, de forma à permitir um adequado e efetivo treinamento para as futuras equipes de operação e manutenção (passagem do bastão).
A grande questão é que nem as grandes construturas e instaladoras enxergam a importância deste controle de qualidade ao longo de todo o processo, e muito menos que o sucesso nestas etapas mitigará o risco de falhas e, principalmente, os ajudará na redução do desperdício e do retrabalho.
A má qualidade impera em nossas construções e instalações, não somente pela falta de visão mas, a meu ver, pela falta de cultura em nosso país a este respeito.
Em alguns grandes centros fora do Brasil, costuma-se envolver profissionais de comissionamento, de Facility Management e de Operação e Manutenção ainda nas etapas de projeto e concepção, justamente com o objetivo de mitigar riscos futuros e de proporcionar uma operação mais segura e rentável.
Infelizmente, vi apenas dois empreendimentos que tentaram seguir tal filosofia aqui no Brasil e, quando digo “tentaram”, me refiro ao fato de que a preocupação com prazos e existência de falhas no controle da qualidade durante o processo acabaram por superar a visão inicial.
Precisamos sem nenhuma sobra de dúvidas incrementar / melhorar o controle da qualidade em nossas obras e instalações, mas vejo principalmente a necessidade de aculturar estes profissionais que, em muitos casos, ainda não enxergam os seus benefícios.
Vejam abaixo a reportagem da Revista Infra sobre o tema qualidade nas obras.
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Fonte: Revista Infra
Acesse aqui a reportagem em sua fonte.
Grande parte das construtoras diz ter uma área de qualidade, mas na verdade é só proforma!
Tenho visitado muitas construtoras e conversado com as áreas de qualidade e afins para saber como estas estão atuando, de que forma agregam valor a companhia, mas o que percebo na maiorias das vezes é que a própria área de qualidade não atua proativamente para eliminar defeitos ou erros, identificando a causa do problema. A grande maioria comenta que preenchem os formulários de inspeção e verificação para manterem o processo de qualidade, mas isso realmente é efetivo para trazer e garantir a Qualidade na obra? Pensando em benchmark, na Indústria a busca da qualidade é pelo “Zero Defeito”, ou seja, atuar de forma a resolver o problema em sua origem para nunca mais acontecer.
Na Construção civil, o que se chama de qualidade é muitas vezes preencher formulários para estar conforme ao programa específico como ISO ou PBQP-h. Uma coisa é ter um programa de qualidade do tipo ISO-9000 ou PBQP-h, mas isso não garante a Qualidade da obra, mas sim um processo. Em minha opinião, inspecionar qualidade é identificar, capturar defeitos, categorizá-los e entender suas causas para conseguir corrigi-los e evitá-los em futuras etapas, assim como capturar oportunidades de melhoria de projeto, processos, operações, eliminando novos defeitos, necessidades de retrabalhos, gastos com mais material para consertar, horas dos trabalhadores e todos os outros custos associados a isso.
Quem faz qualidade é a Obra, e quem inspeciona é a Qualidade, de forma independente, de forma que não se crie um conflito de interesse, evite-se reprimir aquele que aponta um erro de construção.
Por que então manter uma área de Qualidade? Para estar conforme? Qualidade é coisa para inglês ver? Não, a importância da boa atuação da área da qualidade é essencial para a saúde financeira da obra pois reflete em custos e imagem da empresa, e especificamente para o segmento da construção civil, a qualidade esta deve ser veloz a ponto de atuar na própria obra evitando problemas nas fases seguintes, e também em futuras obras similares. Preencher formulários não irá ajudar as construtoras a serem mais produtivas, e esta visão deveria mudar o quanto antes, ainda mais em momentos onde o mercado está retraído e toda economia possível conta para o resultado financeiro da empresa.
*Alexandre Siqueira é Diretor Comercial e de Marketing da Astrein, empresa especializada em soluções para gestão de ativos, facilities e centrais de cadastros.