Fonte: DCI – São Paulo
Acesse aqui a matéria em sua fonte.
Em 2014, trechos da transposição do rio São Francisco reduziram a velocidade
Foto: Fotos: Agência Brasil / PAC / Fotos Públicas
A indústria da construção registrou a redução de 167 mil trabalhadores empregados nos últimos 12 meses, segundo dados do Caged. Entidades e empresários apontam que o alto número de obras de infraestrutura paradas, redução dos lançamentos de imóveis e mudanças nas gestões estaduais resultaram no dado.
Só em Mato Grosso, mais de 15 obras de infraestrutura – a maioria delas em trechos rodoviários – foram paralisadas no começo do ano. Em Minas Gerais, a construção de dois hospitais públicos também foi interrompida por problemas em repasse de orçamento entre os governos estadual e federal.
A Operação Lava Jato, da Polícia Federal, também tem impactado profundamente as obras de infraestrutura. De acordo o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral no Estado de Pernambuco (Sintepav-PE), a construtora Mendes Júnior, uma das empresas citadas da acusação de irregularidades em contratos com a Petrobras, demitiu 2,5 mil trabalhadores ligados às obras de Transposição do Rio São Francisco desde o início do escândalo com a petroleira.
“As obras estão bem mais lentas, tanto pela dificuldade de caixa do governo federal para repasse, quanto pelas empresas citadas na Operação Lava Jato, que estão operando de maneira mais morosa”, afirmou um membro do sindicato, que falou em condição de anonimato.
Na visão do sindicalista, há uma perspectiva de novas demissões daqui pra frente. “Os trabalhadores estão bem preocupados com a situação”, defendeu.
Obra prioritária
A transposição do rio de São Francisco – um dos pilares do governo para abastecimento de água em regiões secas – está dividida no Eixo Norte e Eixo Leste e unirá os estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. “O problema, por enquanto, está no Eixo Norte, onde aconteceram demissões sem explicação e previsão de retorno”, disse o sindicalista.
Em nota, o Ministério da Integração Nacional, afirmou ao DCI que não há problemas com os repasses e pagamentos para as obras da transposição, o que não justificaria as demissões citadas pelo Sintepav-PE.
Segundo o ministério, a Mendes Júnior é alvo de processos administrativos por atraso na construção. A companhia está com o seu vice-presidente, Sérgio Cunha Mendes, preso em Curitiba desde novembro do ano passado, quando estourou a Operação Lava Jato. A construtora tem dois contratos do projeto da transposição, que somam mais de R$ 1,2 bilhão. Questionada sobre o financiamento e as causas da paralisação, a Mendes Júnior disse que “as obras encontram-se em andamento dentro do previsto”.
A preocupação do governo é adiar novamente a conclusão da obra. Até dezembro, a execução física no lote principal tocado pela Mendes Júnior só havia atingido 50,3% do contratado.
Outros estados
No começo do ano, uma portaria publicada no Diário Oficial do Estado de Mato Grosso anunciou a paralisação de 14 obras rodoviárias – entre elas as MTs 100, 326, 343, 249, 010, 270/040, 423, 336, 170 e 235. Os serviços também foram paralisados em outros trechos, têm extensão de 1.104,06 km, e cortam mais de dez cidades.
O objetivo da paralisação, segundo o governo do Estado de Mato Grosso, é rever as licitações firmadas para evitar problemas legais. Juntas, as obras somam contratos de mais de R$ 1 bilhão e a postura do governo é de refazer as operações, caso sejam encontrados irregularidades no processo licitatório.
Em Minas Gerais, duas obras de hospitais públicos também foram paralisadas este ano. Com recursos de quase R$ 200 milhões, a interrupção da obra se deu em função de problemas coma mudança do governo este ano. Como o orçamento estadual de 2015 ainda não foi aprovado pelo Legislativo, segundo a secretaria de Obras do estado, não há como o atual governo seguir com a construção.
Repasses falhos
Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), um dos problemas enfrentados pelas construtoras é o atraso dos pagamentos das obras de infraestrutura por parte do governo federal. Em nota, a entidade apontou que, apesar dos esforços para comunicação com o planalto, ainda não há garantias públicas de quando será normalizado o pagamento para quitação dos débitos.
A entidade informou que, além dos empreendimentos do programa Minha Casa Minha Vida, projetos rodoviários, energéticos e de saneamento estão tendo pequenos atrasos nos pagamentos.
Economia
O que também pressiona o resultado divulgado pelo Caged, órgão vinculado ao Ministério do Trabalho, é a redução no ritmo de obras de imóveis comerciais e residenciais.
Exemplo desse momento de morosidade, a construtora mineira Cenfaz reduziu os planos de lançamentos este ano e cortou 15% da capacidade de mão obra. “Tentamos segurar o nosso contingente de trabalhadores, mas não foi possível”, disse o diretor de novos negócios, Emerson Lucca Vieira, que prevê retomada do caixa, diminuição do estoque e contratações para o ano que vem.