O ar condicionado pode ser uma fonte de água em nosso futuro urbano
Air Conditioners Might Be One Water Source of Our Urban Future
Este interessante artigo originalmente publicado em inglês foi extraído da Bloomberg CityLab em maio deste ano, sendo o texto produzido por Chris Malloy.
O objetivo em separar e compartilhar este texto a partir deste blog é chamar a atenção para algumas questões….
- Não vemos por aqui a estruturação de planos ou programas de incentivo fiscal para empresas e pessoas físicas, com vistas a implantação de projetos sustentáveis;
- Não vemos também a adoção de um planejamento no curto, médio e longo prazo para as nossas cidades, bairros e condomínios, lembrando apenas que, no meu entendimento, deveríamos receber o exemplo e/ou obrigatoriedade por parte de nossos governantes;
- Ainda não se observa, em uma escala minimamente aceitável, a conscientização de nosso povo, sendo ainda possível se observar o desperdício de recursos cada vez mais caros e escassos;
- Ainda que observemos a implementação de projetos sustentáveis por algumas empresas e investidores, estes não recebem a devida preocupação e cuidados na fase de uso e operação, o que nos sugere a falta de visão de investidores e gestores quanto a importância destes sistemas na matriz de recursos e energia, em um empreendimento.
No entanto, como diziam os “antigos”, “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura“, sendo que espero, sinceramente, que o aprendizado e a conscientização sejam mais rápidas do que a escassez….
Uma boa leitura e uma ótima semana!
Fonte / Source: Bloomberg CityLab
Por / By: Chris Malloy
Tradução: por Alexandre M F Lara
Acesse aqui o artigo em sua fonte original / Click here to read this article from its original source.
A crise global no abastecimento de água tem movimentado empresas e cidades para o reaproveitamento da água de condensação ou condensado produzida pelos sistemas de ar condicionado para a irrigação, descargas em toaletes e, em alguns casos, para produzir a cerveja.

Sem gotejamentos. O aeroporto de San Diego vem reutilizando desde 2014 a água produzida pela condensação no ar condicionado. Fotógrafo: John Gastaldo / Cortesia de Photographer: John Gastaldo/Courtesy of San Diego County Regional Airport Authority
Na cidade costeira de Herzliya, Israel, não muito longe das ressecadas montanhas e desfiladeiros do deserto de Negev, sistemas de ar condicionado são responsáveis por climatizar os 46.000 metros quadrados do “envidraçado” espaço corporativo da Microsoft Corp.
Como qualquer sistema de ar-condicionado, este sistema produz um subproduto durante a sua operação: água. Mas ao invés de drenar esta água denominada como condensado, a Microsoft a reutiliza para irrigar o paisagismo do campus e ajudar a resfriar a edificação. A gigante da tecnologia utiliza um sistema similar em seus escritórios localizados em Twycross, no Reino Unido, e em Hyderabad, India.
“Nós estamos também considerando a inclusão deste sistema de reaproveitamento em outros edifícios da Microsoft dependendo do projeto de HVAC / AVAC, do clima na região, alem de outros fatores,” mencionou Katie Ross por e-mail, a gerente sênior do programa de sustentabilidade da Microsoft.

O campus da Microsoft em Herzliya, Israel, reutiliza parte da água de condensado produzida pelo sistema de ar condicionado para irrigar o paisagismo. Fotógrafo: Amit Geron/Cortesia da Microsoft
A economia de 3 milhões de litros proporcionada pelo escritório em Herzliya se equivale aproximadamente a 793.000 galões — o suficiente para atender a necessidade anual de água de várias famílias. Apesar do sistema de reuso do condensado produzido pelo ar condicionado não atender em escala suficiente à maioria das residências e outros pequenos espaços (por enquanto), o conceito poderá ser uma ferramenta útil dentro da vasta caixa de ferramentas requerida para tornar os edifícios mais inteligentes e atender às necessidades de água e combater as mudanças climáticas. As Nações Unidas postulam que a água é o “meio principal através do qual sentiremos os efeitos das mudanças climáticas.”
Algumas localidades, como Austin, Texas — onde a água provavelmente se tornará cada vez mais escassa – já adotaram medidas para promover o reaproveitamento do condensado.
“Nós estamos em uma região do país onde esperamos que a mudança climática cause impactos na frequência e intensidade de nossas secas”, disse Mark Jordan, gerente do programa ambiental pela Austin Water. “Nós queremos prolongar o nosso fornecimento o máximo possível, voltando-nos cada vez mais para o reuso. Estamos realmente promovendo o reuso como uma forma de atender as demandas de água pelos pelos próximos cem anos.”
Duas proeminentes estruturas de Austin usam a tecnologia. A primeira delas, o Austonian, o arranha-céu residencial com 56 pavimentos, coleta algo próximo de 12.800 galões (aproximadamente 48.000 litros) de condensado por ano, utilzando-o para irrigar uma área verde localizada no 10º pavimentou. A segunda estrutura, a Austin Central Library combina fontes alternativas de água incluindo o reuso de condensado, a coleta e o armazenamento de águas pluviais, e o reuso de água de descarte tratada para economizar cerca de 350.000 galões por ano (aproximadamente 1.325.000 litros) — o suficiente para atender a aproximadamente 90 % da demanda de água da biblioteca.

O Austonian (center) na parte central da cidade usa o condensado produzido pelo ar condicionado para irrigar uma área verde em seu décimo pavimento. Fotógrafo: George Rose/Getty Images
Em uma tentativa de fazer com que outros grande espaços internos sigam o exemplo, o Conselho da Cidade de Austin aprovou em abril um programa de incentivo cujo foco é encorajar o uso de águas reutilizadas, incluindo o condensado. Empreendimentos comerciais que utilizem o reaproveitamento de águas, substituindo entre 1 milhão e 3 milhões de galões de água potável ao ano poderão obter US$ 250.000 em financiamento da cidade; aqueles que economizarem mais de 3 milhões de galões podem receber US$ 500.000. Já existem programas similares em São Francisco e San Antonio.
Ainda assim, existem alguns obstáculos para uma adoção mais ampla. A implementação de sistemas de reuso de condensado em edifícios possui um capital inicial a ser investido, além do que algumas regiões produzem mais condensado do que outras. A produção de condensado ocorre melhor quando o ar quente e úmido entra em contato com uma superfície fria. Pense em um espelho e um chuveiro ou banho quente. Por esta razão, as regiões mais ao sul do território norte-americano e outras regiões quentes e úmidas possuem um maior potencial para produzir muito mais condensado. Muitas desta regiões, também já possuem água suficiente (por enquanto).
De uma forma geral, o oeste norte-americano – que já está enfrentando grandes secas (megadroughts) e a escassez de água, especialmente em regiões como a bacia do Rio Colorado — possui um ambiente quente e seco, menos propício para a produção de condensado a partir do ar condicionado. Mas o agravamento desta situação emergencial em relação a água fez com que alguns grupos não deixassem para trás nenhuma oportunidade para evitar o desperdício.
Por um lado, o edifício que abriga a Planning & Landscape Architecture, pertencente a Universidade e Faculdade de Arquitetura do Arizona (University of Arizona’s College of Architecture), reutiliza cerca de 95.000 galões de água condensada por ano, direcionando-os para um lago e jardim. Um de seus professores, Jonathan Bean, diz que o reaproveitamento de água de condensado é importante, mas não uma peça crítica no combate às mudanças climáticas. Ele acredita que existem estratégias mais eficazes, tais como tornar os edifícios menores e reconsiderar a questão envolvendo os refrigerantes.

O condensado produzido pelo ar condicionado na Universidade do Arizona é direcionado para este lago. Fotógrafo: Simmons Buntin/Cortesia da Universidade do Arizona
No entanto, a reutilização do condensado, acredita Bean, torna os edifícios mais inteligentes em relação ao clima – mesmo no quente Arizona, o qual se torna úmido somente durante as monções de verão. “Faz sentido,” desviar a água para o jardim, disse ele. “É um recurso no qual você está despendendo uma boa quantidade de energia, então por que não o faria?”
Apesar de se tratar de um pequeno volume de água que escoa silenciosamente a partir do ar condicionado em edifícios, comparada com rios e aquíferos subterrâneos, isto poderá fazer a diferença, especialmente quando combinado com outras fontes alternativas de água como a captação de água de chuva e de águas servidas tratadas. Mesmo um pequeno volume como este pode tornar um jardim verde, abastecer sanitários, fornecer o frio, atender as necessidades parciais de alguns edifícios, encurtar a cadeia de abastecimento de água (economizando energia), e tornando as pessoas mais conscientes a respeito da escassez de água.
Em 2019, o Aeroporto Internacional de San Diego embarcou em um projeto, chamando mais a atenção para a conservação de água: transformando o condensado em cerveja. Antes da pandemia, o Aeroporto estabeleceu uma parceria com a Cervejaria Ballast Point visando o aproveitamento de parte do condensado utilizado em suas enormes torres de resfriamento responsáveis pelo controle de temperatura do aeroporto. O resultado foi um teste piloto denominado SAN, uma cerveja kölsch no estilo alemão mais suave, que requer boa água. Três locais da Ballast Point em San Diego serviram a cerveja enquanto durou o lote.

Cerveja produzida pela Ballast Point durante o teste piloto SAN e utilizando-se do condensado gerado no aeroporto. Cortesia das Autoridades locais do Aeroporto Regional do Condado de San Diego
Esta foi apenas uma forma na qual o aeroporto experimentou o reuso de água. Em um ano normal o aeroporto coleta aproximadamente 100.000 galões de água condensada, sendo a maior parte destinada para as torres de resfriamento e lavadoras de alta pressão. De acordo com Richard Gilb, gerente do departamento de planejamento e assuntos ambientais do aeroporto, o aeroporto vem reutilizando o condensado desde 2014.
“Uma vez que estamos localizados em um ambiente costeiro, existe humidade suficiente para a geração contínua de condensado,” disse ele. “Estava pingando no solo e nos pareceu uma boa fonte de água sobre a qual deveríamos fazer algo.”
Ainda que a pandemia tenha temporariamente frustrado as esperanças para novos lotes, Gib espera fazer parceria com outras cervejarias em San Diego para a produção futura de mais cervejas a partir do condensado. Ele até mesmo sonha em servir canecas dentro dos terminais – tornando as pessoas mais conscientes sobre o que pode ser feito, compartilhando um exemplo gelado de uma das possibilidades que já existem.