Fonte: Folha de SP Online
Por: Guilherme Magalhães
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Na cidade de Sao Paulo, nao importa o local, ninguem esta a mais de 300 metros de distancia de um curso dagua, afirma o geografo Luiz de Campos Junior. A frase pode soar estranha em uma metropole acostumada com a selva de asfalto e concreto que deixa pouco espaco para seus rios, corregos e riachos correrem a ceu aberto.
Mas eles estao la, no subterraneo, correndo em galerias apos serem tamponados.
A Prefeitura de Sao Paulo tem, mapeados e nomeados, 280 cursos dagua. Esse numero, porem, e muito maior, diz Campos, um dos fundadores da iniciativa Rios e Ruas, que desde 2010 mapeia os rios e corregos subterraneos da capital paulista.
O grupo trabalha com uma estimativa de 300 a 500 cursos dagua escondidos sob ruas e avenidas. Juntos, eles somariam cerca de 3.000 quilometros de extensao, outro numero que tambem pode ser maior que a estimativa.
DEDO DO HOMEM
Intervencoes humanas na natureza dos rios da capital existem desde pelo menos o seculo 19, quando ja se poluia o rio Tamanduatei, que nasce na serra do Mar e percorre a zona leste de Sao Paulo.
Em 1894, teve inicio a discussao do projeto de retificacao do curso do rio, cuja obra seria concluida em 1916. Foi o primeiro dos grandes rios da capital paulista a ser canalizado para escoar o esgoto dos bairros localizados proximos a ele.
A partir dos anos 1920, ganham forca os projetos de canalizacao e retificacao dos rios paulistanos. As obras no rio Pinheiros tem inicio em 1928, seguindo ate meados dos anos 1950. Dez anos mais tarde, e a vez do rio Tiete, que so na decada de 1970 ganharia a “cara” que tem hoje.
O momento coincide com a popularizacao do automovel como meio de transporte da classe media paulistana, que precisava de vias para melhorar o acesso as partes mais remotas da cidade. A capital paulista estava em franca expansao e “engolia” municipios vizinhos, como Santo Amaro.
TRATAMENTO
“Tem que pensar em como nao sujar a agua. A gente teve uma politica que enterrou completamente os rios. Em vez de cuidar, enterrou tudo para o povo nao poder usar”, afirma o geografo Campos Junior. “Mesmo com os visiveis as pessoas nao tem contato, nao chegam perto.”
O ideal, segundo ele, seria um tratamento que preserve o curso dagua a ceu aberto e que mantenha alguma sinuosidade do rio. “A pior maneira de canalizar um rio e o tamponamento.” Esse processo cria uma galeria ou tubulacao enterrada que recebe, junto com a agua da chuva, toda a sujeita das ruas e ate ligacoes de esgoto. “Tudo isso ocorre sem que possamos ver ou ter contato com a condicao do rio”, diz Campos.
Em tempos de crise hidrica, esse contato e fundamental. Pensando nisso, o Rios e Ruas montou, em parceria com outros grupos ligados a defesa dos rios, um programa piloto que vai analisar a agua de dez nascentes nas zonas norte e oeste da capital paulista.
Dois criterios serao observados: a nascente precisa manter um fluxo constante de agua e ser acessivel a populacao.
Apos o teste, os locais serao sinalizados para que os moradores conhecam os possiveis usos para a agua daquela nascente. Se a iniciativa der certo, a ideia e expandir o programa para outras nascentes da cidade.