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Por: Luiz Henrique Ceotto
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Recebi uma “provocação” de amigos para falar da retomada da construção civil nos próximos meses. Como não sou economista, tenho dedicado bastante tempo em ler e entender as previsões econômicas de todos os matizes e com isso poder ter alguma posição a respeito. Uma coisa é certa, é mais fácil fazermos previsões para daqui 5 anos do que para daqui a 5 meses. Estamos vivendo uma crise profunda, equivalente a uma guerra mundial, com a única vantagem de perdermos muito menos vidas e não destruirmos fisicamente nossas cidades, fábricas e infraestrutura. Mas haverá destruição de empresas, empregos, confiança e um enorme incremento da pobreza em todo mundo.
Dos trabalhos que li, uma das melhores análises foi feita pelo Mckinsey em conjunto com a Oxford University para o efeito do corona-vírus na economia mundial, dos EUA, Europa e China, a qual pode ser vista em detalhes no link abaixo:
De uma forma bem resumida, nesse artigo foram estudados 9 senários possíveis variando a duração da curva de infecção (e eventual reinfecção) e as medidas tomadas pelos países para sua mitigação. Como as medidas que serão tomadas são de natureza política, e não obedecem necessariamente a uma lógica científica, não é possível termos muita certeza em qual cenário escolher. No artigo, foi escolhido um intervalo possível entre dois cenários intermediários “centrais”, nem tão pessimista nem tão otimista. O cenário A3 (um pouco mais otimista) prevê uma recuperação relativamente rápida, mas sem nova onda de incidência do vírus. Essa recuperação mundial aconteceria até o final de 2020. O cenário A1 (um pouco mais pessimista) prevê algumas ondas de reincidência do vírus e necessidade de algumas novas quarentenas para debelar essas reincidências, atrasando a recuperação econômica, que somente voltaria a situação pré-crise no final de 2021.
O que mais me impressionou foi a simulação da magnitude do impacto comparada as várias crises que aconteceram nos últimos 100 anos, a qual reproduzi na figura anexa. O cenário A3 (mais favorável) faria o PIB dos EUA cair 8% no período e o A1 (mais pessimista) faria cair 13%.
No gráfico, o impacto mais otimista seria equivalente ao dobro do impacto da crise financeira de 2008 e a menos otimista a três vezes ou equivalente ao impacto da própria IIWW. Mesmo atingindo picos equivalentes a IIWW o impacto total seria menor pois a duração da crise seria bem menor. As “áreas” sob as curvas é que determinam o impacto total e, mesmo a hipótese menos favorável, teria um impacto 4 a 5 vezes menor do que a IIWW. Ainda assim será o maior choque econômico desde a IIWW e muito maior do que a crise financeira de 2008. Nós, os mais velhos, nunca vimos um impacto tão grande como o que estaremos vivendo.
Examinando com cuidado o estudo desse artigo, dá para imaginar pelo menos a ordem de grandeza do impacto na economia brasileira e de certa maneira o impacto na construção civil e no mercado imobiliário. São setores com vieses diferentes.
Se a construção civil, na sua área de infraestrutura, for usada pelo governo como alavanca para a retomada da economia, com contratos importantes de estradas, portos, sistemas de esgoto, água e hospitais, o impacto nesse setor será positivamente muito grande e sua recuperação muito rápida.
Mas no mercado imobiliário, na minha opinião, a saída é muito mais complexa e lenta. O mercado imobiliário precisa de compradores e para isso são necessários 3 requisitos básicos: empregos (confiança), aumento de renda (formação de poupança) e crédito. O governo tem anunciado medidas importantes de crédito pela CEF, mas por maiores que sejam não serão suficientes para alavancarem o setor. No máximo atenuarão a onda de inadimplência e distratos junto a bancos e construtoras. A recuperação econômica do mercado imobiliário só acontecerá quando os dois outros requisitos derem sinais de recuperação. Esse tripé tem que parar em pé para que o setor volte a crescer. Isso sempre aconteceu em todas as outras crises do passado. O mercado imobiliário é o primeiro a ser atingido e o último a se recuperar nas crises econômicas.
Dessa forma, acredito que não haverá atividade econômica significativa no setor imobiliário nos próximos 12 meses, sendo pior nesses primeiros 6 meses (até outubro). Haverá muitas dificuldades e desemprego, pois, as empresas precisarão reduzir seus custos fixos para fazer frente a drástica redução de vendas e quebra de caixa nesse período.
A retomada provavelmente será gradual a partir do início de 2021. Muitas empresas compraram terrenos para lançamento numa visão otimista de recuperação de mercado que existia no final do ano passado e até fevereiro desse ano. Esses terrenos foram comprados com preços elevados e isso dificultará empreendimentos viáveis num futuro próximo. Soma-se a isso o fato de que a maioria dos donos de terreno tem um custo muito baixo de mantê-los (custo de IPTU e vigilância) e, não sendo estimulados a baixar seus preços de venda, poderão manter suas posições de preço alto com facilidade complicando ainda mais a retomada.
Resumindo, vejo um possível bom futuro na construção civil de infraestrutura a depender de uma visão política de recuperação econômica, mas uma recuperação lenta e sofrida para o mercado imobiliário.
A única certeza que tenho é que o único setor que não vai sentir qualquer efeito dessa crise é o do funcionalismo público, em particular do legislativo e judiciário. Com o conceito divino de “direitos adquiridos” outorgados a si mesmos, esses setores pesadíssimos da sociedade continuarão recebendo seus salários integrais e bem maiores que da iniciativa privada, vantagens, benefícios e aposentadorias sem que nada tivesse acontecido. Acho que não será dessa vez que vamos reconhecer que os tais “direitos adquiridos imexíveis” foram na verdade direitos “usurpados” por essa casta, e caberá a sociedade carregar o peso desse estado enorme e ineficiente mais uma vez. Mas esse é outro assunto…