Uma nova Paris

Fonte: Valor Online

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Projeto do escritório franco-brasileiro Triptyque, integrante do consórcio formado pelo Instituto Urbem, para o prédio Morland: imóvel de 40 mil m2 está entre as áreas mais cobiçadas Prédios totalmente construídos com materiais reciclados, o que inclui o cimento, ou que integram o conceito de “agricultura urbana”, com estufas, que permitirão aos moradores terem sua horta.

Esses são apenas alguns exemplos dos inúmeros projetos apresentados por arquitetos do mundo todo, inclusive do Brasil, na concorrência lançada pela prefeitura da capital francesa para “reinventar Paris”, como é chamada a nova operação de urbanismo, na qual a palavra de ordem é “inovação”, o principal critério na escolha dos vencedores. “Os projetos serão selecionados em virtude da inovação e de sua utilidade e não em relação ao preço oferecido. É a primeira vez que é lançada uma concorrência desse tipo, em que as novas ideias são mais importantes do que quem vai pagar mais”, afirma Jean-Louis Missika, adjunto da Prefeitura de Paris – equivalente a secretário municipal -, responsável pelo urbanismoarquitetura e desenvolvimento econômico da capital francesa.

Na prática, foi dada carta branca aos interessados para “inventar o urbanismo do século XXI” na cidade. “Os modos de vida mudam em grande velocidade e os prédios devem se adaptar a isso”, diz Missika. O Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole (Urbem), organização não governamental sediada em São Paulo, é um dos concorrentes do projeto. Com parceiros da iniciativa privada, o Urbem é o único competidor brasileiro no evento, entre grupos de 15 países, como Alemanha, Japão e Holanda (leia mais na pág. 20). A concorrência foi lançada em 23 áreas em Paris, localizadas em nove distritos, os “arrondissements”. A oferta de áreas, que totalizam cerca de 150 mil m2 de construção, é bastante variada: subestação de energia, estação ferroviária abandonada, prédios históricos que eram antigas residências de nobres (os chamados “hôtels particuliers”) e também terrenos vazios, que ainda existem em zonas mais periféricas da cidade.

O consórcio brasileiro coordenado pelo Urbem apresentou propostas para 12 áreas. “Não há uma cidade no mundo que tenha ousado o que estamos fazendo agora. Estamos vivendo um momento histórico”, declarou a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, ao apresentar o projetoRéinventer Paris a cerca de 200 arquitetos e empreendedores imobiliários em novembro. Na primeira fase, em janeiro, foram apresentadas 815 candidaturas e 650 foram aceitas. O Morland visto de outro ângulo: às margens do rio Sena, esse edifício com ares soviéticos entre a Île Saint-Louis e o Marais oferece um panorama excepcional da cidade Desse total, 372 passaram à ação, em maio, com propostas oficiais. Em meados de julho serão divulgados os nomes dos três ou quatro candidatos, no máximo, para cada uma das 23 áreas da concorrência, escolhidos por um júri formado por representantes da prefeitura, de grupos políticos da assembleia municipal e de especialistas.

A seleção final será feita por um júri internacional, que anunciará os vencedores em janeiro. As obras poderão começar em seguida, segundo a prefeitura. Críticos costumam dizer que diferentemente de cidades como Londres, por exemplo, Paris se tornou ultrapassada, congelada no tempo, com muitos prédios históricos e monumentos emblemáticos, sem grandes inovações arquitetônicas desde a Torre Eiffel, há mais de um século. No ano passado, foi inaugurada a Fundação Louis Vuitton de arte contemporânea, realizada pelo arquiteto Frank Gehry. O prédio é considerado o mais revolucionário construído na capital nas últimas décadas, depois da pirâmide do Louvre. Com Reinventar Paris, a prefeitura quer criar “modelos da cidade do futuro” em termos de arquitetura, de novas utilizações do espaço urbano e de inovação ambiental. “Esse projeto se baseia na ideia de que é necessário transformar Paris, uma cidade de patrimônio histórico.

É preciso dar uma segunda vida a certos prédios e para isso é preciso inovar do início ao fim do processo de construção ou de renovação do local”, afirma Missika. Na visão da prefeitura, o campo da inovação é “imenso” e vai desde as formas para levantar recursos, como o financiamento coletivo (“crowdfunding”), aos materiais e uso de espaços como telhados e subsolos e inclui, claro, o desempenho energético, com prédios que consomem pouca energia, e ambiental. A utilização dos prédios também requer inovação, observa Missika. “Hoje existem novas maneiras de trabalhar, a distância ou em espaços de coworking [escritório compartilhado]. Também na área comercial há mudanças, como os showrooms compartilhados por diferentes empresas”, afirma. Isso se aplica ainda a novas formas de moradia, onde jardins, hortas e dependências da casa podem ser divididos entre os residentes ou ainda a “habitação participativa”, onde os moradores definem com os arquitetos o futuro projeto do prédio, acrescenta. Por isso, a prefeitura privilegia projetos que sigam as mudanças do modo de vida urbano, com prédios inteligentes que possam ser compartilhados, ter sua utilização transformada e vários tipos de uso ao mesmo tempo – moradia, comércio, escritórios e atividades culturais.

Um dos exemplos que se inserem nesse objetivo, entre as propostas recebidas, é o de criar uma residência para estudantes que se transformaria em hotel durante as férias escolares. “Há uma grande diversidade de propostas. Os resultados vão além das nossas expectativas”, ressalta Missika. “Há ideias arquitetônicas muito interessantes, mas nossa prioridade é o aspecto inovador dos projetos.” Apesar da liberdade total na elaboração das propostas, a prefeitura, em alguns casos, exige a criação de moradias no local. Estão previstas cerca de 500 a 600 habitações. Algumas das 23 áreas inspiraram mais os candidatos e receberam maior número de propostas. É o caso do prédio Morland, antiga sede da Secretaria de Segurança Pública de Paris com ares de imóvel soviético, às margens do rio Sena, entre a Île Saint-Louis e o bairro do Marais. Com 40 mil m2 (superfície disponível rara em Paris), ele oferece uma vista excepcional da cidade. Uma das áreas que mais atraíram candidaturas foi a subestação elétrica Voltaire, construída no início do século passado e tombada pelo patrimônio histórico, nas proximidades do Cemitério Père-Lachaise, visitado por turistas do mundo todo.

No local, a prefeitura deseja a criação de um cinema “popular e de qualidade”, baseado em reflexões sobre “novas modalidades de funcionamento de um cinema”. Três antigas residências de nobres e membros da grande burguesia (os “hôtels particuliers”) deverão ser transformadas seguindo regras da preservação do patrimônio. Um dos imóveis, construído entre os séculos XVII e XVIII, foi a casa da marquesa de Sévigné – cujas cartas se tornaram clássicos da literatura francesa – e fica na badalada rue des Francs-Bourgeois, no Marais. Outra, do século XV e tombada pelo patrimônio histórico, com 2 mil m2, no local da antiga faculdade de medicina, fica a poucos menos da Catedral Notre-Dame. Alguns projetos desafiam a imaginação, como é o caso da área na Porte des Ternes sobre a “marginal parisiense” (o “périphérique”), onde será construído um “prédio-ponte” sobre o sistema viário, de acordo com a prefeitura.

Os vencedores da concorrência poderão escolher se desejam comprar ou alugar os terrenos, informa Missika. Segundo ele, a participação do setor privado não resulta das atuais dificuldades financeiras da prefeitura, decorrentes da diminuição dos repasses efetuados pelo governo, que já provocam neste ano um rombo de € 300 milhões para fechar o orçamento de 2016. “Não é a primeira vez que lançamos projetos com fundos privados. A administração municipal tem um patrimônio enorme. Nós compramos mais do que vendemos.” A prefeitura anunciou, no fim do ano passado, que projeta vender anualmente € 200 milhões em bens imobiliários durante a gestão de Anne Hidalgo, que vai até 2020. É também até essa data, esperam as autoridades municipais, que deverão estar finalizadas as obras do Reinventar Paris.

A iniciativa se refere apenas a terrenos intramuros (no interior do sistema viário “périphérique”). Em 2016, a prefeitura prevê, segundo Missika, lançar uma nova concorrência desse tipo em áreas periféricas da cidade. Pelo visto, a “cidade patrimônio” vai ter muitas mudanças e inovações pela frente.

Sobre Alexandre Lara

Alexandre Fontes é formado em Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção pela Faculdade de Engenharia Industrial FEI, além de pós-graduado em Refrigeração & Ar Condicionado pela mesma entidade. Desde 1987, atua na implantação, na gestão e na auditoria técnica de contratos e processos de manutenção. É professor da cadeira de "Operação e Manutenção Predial sob a ótica de Inspeção Predial para Peritos de Engenharia" no curso de Pós Graduação em Avaliação e Perícias de Engenharia pelo MACKENZIE, professor das cadairas de Engenharia de Manutenção Hospitalar dentro dos cursos de Pós-graduação em Engenharia e Manutenção Hospitalar e Arquitetura Hospitalar pela Universidade Albert Einstein, professor da cadeira de "Comissionamento, Medição & Verificação" no MBA - Construções Sustentáveis (UNIP / INBEC), tendo também atuado como professor na cadeira "Gestão da Operação & Manutenção" pela FDTE (USP) / CORENET. Desde 2001, atua como consultor em engenharia de operação e manutenção.
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