Desde muito novo, ainda quando comecei a minha vida profissional aos 17 anos, ouvi de um colega (isto há exatos 32 anos…) a frase: “obra não se entrega….se abandona…”
É evidente que naquela época, ainda imerso na minha falta de experiência e vivência no assunto, cansei de tanto rir da frase que me soava extremamente engraçada.
No entanto, em alguns anos mais a frente, comecei a participar em um dos lados da mesa nesta questão de fazer ou receber obras e instalações (sentei-me no lado de quem contratava e recebia) e foi neste momento que percebi onde “a porca torcia o rabo….“.
Imediatamente me lembrei daquele meu colega e das risadas que dei e aí…chorei de raiva…..
Anos se passaram e muitas e muitas obras e instalações cruzaram pelos meus caminhos nestes 32 anos de profissão e como ocorre em todo (ou quase…) processo de amadurecimento, começamos a olhar e a alterar a frase inicial que me fez rir muito um dia.
Existem de fato (e muito claramente definidos) os dois lados da mesa e duas visões e missões completamente diferentes:
– A primeira visão, do lado de quem contrata, tem como características e aspirações a contratação do melhor ou do mais necessário, por um preço “justo”, que em alguns casos, pode se acabar se tornando “pelo menor preço”.
Distorcem ainda esta visão algumas atitudes ou visões pessoais de alguns profissionais contratantes, que se assemelham um pouco ao “estofamento de almofadas” (!!). É evidente que esta expressão faz menção àqueles que tentam jogar mais serviços e responsabilidades dentro de um escopo e contrato definidos, aproveitando-se da oportunidade, principalmente do momento da negociação.
Na minha visão, quando ocorre esta situação, não existe somente a culta do “estofador”, mas também existe a culpa de quem “aceita calado” este tipo de situação ou negociação, em prol do novo contrato que acaba de ocorrer. Afinal, não existe mágica na precificação de horas técnicas e serviços e muito menos de “Harry Potters ou Dumbledores” no comando destes contratos.
– A segunda visão, do lado de quem acaba de ser contratado, será sempre à de entregar o “escopo contratado” (o que estiver claramente escrito!!!), com a melhor logística e custo possíveis (tempo e retrabalho são muito caros…), no menor tempo possível.
Se olharmos ao pé da letra, nenhum dos dois lados está errado, com algumas pequenas ressalvas e opiniões pessoais, mas, é também verdadeiro que neste conflito de visões e objetivos diferenciados, nos deparemos com graves questões de execução, supervisão / de gestão e acompanhamento, assim como com questões contratuais e de LIMITES DE ATUAÇÃO.
Até onde vai o limite de cada lado, seja quanto aos seus direitos, seja quanto as suas obrigações….
Será que isto também não é uma questão de ajuste pelos gestores??
Nesta última semana, recebi o contato de uma empresa interessada em certificar-se de que uma instalação seria entregue de maneira completa e aderente às condições estabelecidas em projetos e normas.
No entanto, ocorre que esta instalação em específico, ou melhor, o sucesso desta instalação dependeria não só do trabalho efetuado pelo instalador, mas também da qualidade da operação e manutenção dos equipamentos já existentes no edifício, os quais seriam responsáveis por suprir o cliente com as condições mínimas necessárias para o bom funcionamento das obras e instalações que estavam sendo concluídas.
O mais interessante (e comum em muitos casos…) é que o instalador vislumbrou como meta a conclusão e os testes / comissionamentos sobre a parte que lhe cabia, ou seja, das instalações sob a sua responsabilidade.
Mas e quanto a outra parte, cujo desempenho seria extremamente necessário e fundamental para o sucesso de sua obra?
Quem veria esta situação e quando seriam feitos os testes INTEGRADOS para a análise do resultado final?
Estas são perguntas que pairam em diversas situações, em diversas obras por aí…
Muitas vezes, a falta de visão e de conhecimento de um gestor, permitirá com que este tipo de lacuna não seja preenchida e que tenhamos problemas operacionais à vista… (e olha o gerente de operação aí gente…..)
Novamente, caberá ao(s) gestor(es) deste processo como um todo identificar a necessidade de comissionamentos específicos e, caso não tenha esta experiência, identificar a necessidade de contratação de agentes que poderão ajudá-lo à melhor definir e analisar o limite da responsabilidade….para cada um dos lados.
Muito boa e oportuna a análise Alexandre.
Quando responsavels pela Area de facilities num grande banco, contratei um engenheiro cuja função anterior era “identificador de omissos” . Isso meso: Ele analisava os contratos da construtora em que trabalhava e pedia a inclusão de “omissos” nas planilhas de custos…
Não vou comentar o lado ético em questão, mas isso ocorre, infelizmente, porque empresas buscam “custo menor” e nem sempre não preço justo conforme você menciona.
As vezes o comprador desconhece tecnicamente o que está comprando e possui meta de redução e nao de qualidade. Fatalmente corre o risco de comprar algo, pensando estar comprando o que lhe foi solicitado.
Muito se fala em relacionamento ‘ganha ganha”, mas infelilizmente a prática ainda está muito longe.
Empresas e fornecedores éticos. Relacionamentos abertos e contratos bem fomalizados. Talvez ai possa ocorrer a co responsabilidade onde se buscaria a satistfação mutua e não unilateral. Eu acredito.
Obrigado José Márcio pelo comentário e contribuição.
Abraços
Alexandre Lara