Alguém já viu ou ouviu falar de sistemas projetados para trabalhar em períodos noturnos e em finais de semana, que operam durante as 24 horas?
E sobre set points de 29,5ºC para sistemas de condensação ajustados para 15ºC?
E ainda sobre chillers e bombas que deveriam operar em automático e operam em manual, forçados e sem respeitar os diferenciais de temperatura ou carga para o seu ligamento?
Pois é…., apesar de vivermos hoje uma “era de sustentabilidade”, continuamos a ver situações como estas em operações, ainda que em edifícios sustentáveis, ou seja, que conquistaram recentemente algum tipo de reconhecimento.
Já falamos um pouco sobre este assunto por aqui, mas o fato é que estes “velhos” problemas vêm despertando o interesse de profissionais e de consultorias que atuam em outros segmentos, como novas oportunidades de mercado.
Vejam como exemplo o último Green Building Brasil realizado em SP, quando duas de suas mais assistidas sessões se referiam ao tema operação & manutenção. Isto demonstra não só a importância do tema e interesse dos presentes, mas principalmente, a oportunidade e necessidade latente em nosso mercado de O&M.
Se quem se propõe a atuar neste mercado terá ou não a experiência e competência necessária, isto somente o tempo e o próprio mercado poderão nos mostrar…. O que não podemos fazer é fechar os olhos para esta demanda.
Agora…voltando à raiz (ou raízes) deste problema….qual a sua origem? O que desencadeia este “show de trapalhadas ou de horrores”?
Como atacar de forma eficaz este problema?
É evidente que cada caso “poderá” ser um caso diferente, mas também é verdade que muitas situações como estas (que vi ontem em um trabalho de consultoria que estou desenvolvendo) são decorrentes de:
- A falta de uma devida importância na “passagem de bastão” entre a instaladora e os futuros responsáveis pela O&M, sendo mais comum o treinamento de representantes designados pelos proprietários, representantes estes que na maioria das vezes não estarão presentes na fase de ocupação e uso da edificação
- A falha na especificação de perfis e no dimensionamento de equipes de O&M ainda na fase de concorrência, apesar de um teórico processo de equalização técnica previsto na fase de licitação. Me refiro ao termo “teórico”, pois não se verifica na prática a análise detalhada de propostas, assim como o esclarecimento de dúvidas. Lamentavelmente, o que se vê muitas vezes é a aquisição “por preço“, na qual o CONTRATANTE passa a se apoiar na proposta da CONTRATADA (se ela propôs, tem que fazer….). No entanto, esquece-se que as proponentes em um processo de licitação, muitas vezes, costumam se reunir aos “42 minutos do segundo tempo” para elaborar propostas, embasando o seu dimensionamento por similaridade entre prédios e operações sob a sua responsabilidade.
- A negligência quanto a elaboração e/ou atualização de Planos de Operação que reflitam de forma clara as etapas, as condições operacionais necessárias, os procedimentos de contingência, recursos, etc
- A falta de um programa contínuo de melhoria e de capacitação para operadores, que de fato assegure a continuidade e confiabilidade de sua operação
- A “entrega” da operação de sistemas de automação à profissionais não técnicos, não capacitados e que desconheçam os sistemas que operam, assim como os efeitos e resultados produzidos
Enfim, nada disto é novidade, ainda que recorrente em nosso mercado.
Entretanto, estes problemas devem ser combatidos na raiz, ou seja, não apenas alinhando questões operacionais, mas TODO O PROCESSO, desde a sua contratação, até o desenvolvimento de um programa de melhoria contínua, monitorado a partir de KPIs bem definidos.
Reflitam sobre o tema; uma boa semana!
Em Portugal a situação foi similar. No entanto com a implementação da obrigatoriedade de cumprimento de um regulamento em que obriga a que as instalações com potencia instalada superior a 100kwh sejam operadas por técnicos credenciados pela Agencia de Energia e que possuam sistemas de Gestão Técnica Centralizada, esse problema foi minorado.
Infelizmente os edifícios do Estado, foram os que menos aplicaram o regulamento, e com a desculpa da crise e da falta de dinheiro, tem-se vindo a facilitar.
Da minha experiencia profissional desenvolvida como projetista no ramo da hotelaria, além de acompanhar o processo no decurso da obra, mantinha a minha presença na instalação por mais um ano, por forma a passar o conhecimento e poder formar as equipes de manutenção.
É necessário que os promotores estejam sensibilizados para a complexidade das actuais instalações, e de que a manutenção que estas carecem não pode ser efetuada por pessoal não especializado.
Caro João Marcelino, muito obrigado por sua contribuição.
Infelizmente, apesar de termos no Brasil diversas leis consideradas com das mais rigorosas, falta-nos a fiscalização para que se faça cumpri-las.
Isto ocorre em praticamente todos os segmentos, o que é lamentável.
Por outro lado, não bastasse a falta de uma fiscalização, falta-nos também a cultura de executar atividades de instalação e até mesmo de operação, dentro dos moldes da lei.
Evoluímos muito e isto é verdade, mas ainda contamos com muitos profissionais que carregam consigo o modelo de “dar um jeitinho e executar”.
Tomando o exemplo de São Paulo Capital, onde passamos por uma educação “forçada” no trânsito devido às pesadas multas e ostensiva fiscalização, resultando assim em motoristas mais civilizados e obedientes, não vejo como educar de maneira adequada os nossos profissionais, desde as etapas de projeto até a ocupação e uso de edificações, se não passarmos por um modelo muito mais rigoroso de fiscalização e de penalização.
Abraços!
Alexandre Lara