Um Brasil mais Sustentável sim, mas com ressalvas….

Recentemente, a Rede Globo de televisão divulgou uma reportagem sobre a representatividade do Brasil no mercado mundial de construções sustentáveis, no qual assumimos a quarta colocação, estando atrás apenas de Estados Unidos, China e Emirados Árabes, segundo informado pelo GBC Brasil, responsável pelo modelo de certificação LEED.

(veja a reportagem na íntegra http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2013/01/brasil-se-destaca-na-construcao-de-unidades-imobiliarias-com-selo-verde.html)

Isto é fato, se considerarmos ainda o avanço de outros modelos de certificação em nosso país como o AQUA (Fundação Vanzolini), o Selo Azul da Caixa para imóveis e construções de baixa renda e o próprio programa do PROCEL, que abrange um conceito importantíssimo.

Nesta mesma reportagem, a Rede Globo divulga algumas tendências para a certificação de novas construções em três de nossas grandes capitais: SP (expectativa de 47% de ampliação), RJ (expectativa de crescimento em 42%) e Curitiba, sendo este o mercado mais atrativo no momento (expectativa de crescimento em quase 80%).

No entanto, existem questões não menos importantes que podem alterar o resultado final de todo este avanço, aparentemente “cultural” em nosso país.

Lembremos que uma construção sustentável é iniciada em sua fase de concepção para o projeto, na qual o proprietário do empreendimento vê refletidas as suas expectativas no primeiro estudo elaborado por um escritório de arquitetura, que será a base para o futuro desenvolvimento dos projetos de construção e de infra-estrutura.

Por sua vez, os projetos carregarão consigo conceitos de sustentabilidade, desde materiais envolvidos e equipamentos mais eficientes, até uma melhor condição de operação para estes sistemas.

Uma vez instalados de forma adequada, em conformidade com o projeto, os sistemas deverão ser comissionados e recebidos de forma técnica, quando um conjunto de testes funcionais, testes integrados e testes de desempenho serão realizados, objetivando aferir em campo o que fora “vendido” pelos projetistas e idealizadores da edificação, ainda na fase de concepção.

Pronta a edificação e consequentemente certificada, espera-se no fundo que os responsáveis por sua operação perpetuem os conceitos ao longo da ocupação e do dia à dia da operação. Em outras palavras, espera-se que a certificação não seja um “fogo de palha” e que seja, de fato, incorporada àquele edifício durante toda a vida útil.

Retornando à expressão que utilizei anteriormente, quando citei a expressão “avanço aparentemente cultural”, tenho a cada projeto certificado que visito a nítida impressão de que ainda não adquirimos uma cultura de sustentabilidade….

Temo também que ainda estejamos muito apegados aos resultados comerciais provocados pela certificação de um edifício…

Ocorre que várias edificações “sustentáveis” que visitei nos últimos meses deixaram de ter aquele “viés” com o qual foram concebidas; a desativação de sistemas importantes e mais eficientes, a degradação destes mesmos sistemas pela falta ou falha de manutenção e  a entrega de sua operação à equipes sem preparo algum têm promovido a perda de seu desempenho original, ou seja, projetos sustentáveis sendo jogados ao “lixo”.

Em sua maior experiência com números e resultados (o LEED foi lançado no final da década de 90), os norte americanos projetam economias de energia e água, além da redução de custos operacionais bastante atrativos, segundo a estatística de seus dados obtidos ao longo da existência e aplicação do LEED.

Mas e no Brasil? Será que acompanhamos os resultados destas operações para que possamos aferir o resultado de um projeto e processo construtivo mais sustentável?

Será realmente que nos preocupamos com o resultado da operação, que sabemos ter o potencial enorme de promover melhores resultados ou a plena degradação e falência de sistemas?

Fico imaginando estes estádios para a copa do mundo no Brasil, construídos sob o conceito de edificações sustentáveis, mas entregues à empresas e equipes de operação e manutenção provenientes de processos licitatórios, com custos altos e com baixa qualidade…..

Seremos nós um país em pleno avanço (quarto do mundo em certificações LEED) ou apenas “animados” com os resultados comerciais promovidos pelas certificações sobre os custos de locação?

Há alguns anos, presenciei a apresentação de um grande profissional norte americano no segmento da refrigeração, que sintetizava em uma fórmula hipotética as seguintes afirmações sobre o desempenho de um sistema predial qualquer:

  • Temos hoje equipamentos mais eficientes sendo fabricados e disponibilizados ao mercado
  • Temos também uma melhor qualidade e relativa confiabilidade no que se refere aos principais “insumos”, como o fornecimento de água, energia, gás, etc
  • Temos no entanto, um potencial altíssimo de risco na questão Operação e Manutenção, haja vista que uma equipe não capacitada, não habilitada e sem uma gestão adequada poderá provocar um baixo desempenho destes sistemas, um baixo índice de confiabilidade e até a sua inoperância

Enfim, segue mais uma dica para a reflexão…

 

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About Alexandre Lara

Alexandre Fontes é formado em Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção pela Faculdade de Engenharia Industrial FEI, além de pós-graduado em Refrigeração & Ar Condicionado pela mesma entidade. Desde 1987, atua na implantação, na gestão e na auditoria técnica de contratos e processos de manutenção. É professor da cadeira de "Operação e Manutenção Predial sob a ótica de Inspeção Predial para Peritos de Engenharia" no curso de Pós Graduação em Avaliação e Perícias de Engenharia pelo MACKENZIE, professor das cadairas de Engenharia de Manutenção Hospitalar dentro dos cursos de Pós-graduação em Engenharia e Manutenção Hospitalar e Arquitetura Hospitalar pela Universidade Albert Einstein, professor da cadeira de "Comissionamento, Medição & Verificação" no MBA - Construções Sustentáveis (UNIP / INBEC), tendo também atuado como professor na cadeira "Gestão da Operação & Manutenção" pela FDTE (USP) / CORENET. Desde 2001, atua como consultor em engenharia de operação e manutenção.
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